MEU SENHOR E MEU DEUS (Jo 20, 24-29)

Celebramos hoje a Festa de São Tomé Apóstolo. Tomé fechado nos seus esquemas, na sua lógica não acredita no testemunho dos irmãos. Não acredita na comunidade e nos testemunho dos irmãos. Quer ver, para crer. A fé é dom de Deus, para o crescimento a aprofundamento da fé, necessitamos dos irmãos e da Comunidade. Sozinho não se faz experiência do ressuscitado, e se acaso a pessoa encontra-se com Jesus, a pessoa precisa da comunidade para testemunhar sua fé. Não são em experiências pessoais, íntimas, fechadas e egoístas que encontramos Jesus ressuscitado, mas o encontramos no diálogo comunitário, na Palavra partilhada, no pão repartido, no amor que une os irmãos em comunidade de vida. A Comunidade cristã gira em torno de Jesus constrói-se a seu redor, e é dele que recebe vida, amor e paz. Sem Jesus, estaríamos secos e estéreis, incapazes de encontrar a vida em plenitude; sem Ele, seriamos um rebanho de gente assustada, incapaz de enfrentar o mundo e de ter uma atitude construtiva e transformadora; sem Ele, estaremos divididos, em conflitos, e não seremos uma Comunidade de irmãos. A Comunidade é o lugar natural onde se manifesta e irradia o amor de Jesus.
Tomé representa aqueles que vivem fechados em si próprios, os que estão de fora da Comunidade e que não faz caso do testemunho da Igreja, nem percebe os sinais de vida nova que nela se manifestam. Em lugar de se integrar e participar da mesma experiência pretende obter apenas para si próprio uma demonstração particular de Deus. Não querem compromisso com os irmãos, querem se beneficiar da Comunidade, mas não querem se comprometer com ela. Desejam ver, tocar, mas não querem estar juntos, sofrerem juntos, e se alegrar juntos com as conquistas cotidianas, vividas na Comunidade.
Os membros da Igreja são frágeis, podem cair na tentação de se fecharem em grupos de pessoas isolando-se, procurando cada um defender os seus interesses. Tais atitudes ferem e enfraquecem o testemunho da Igreja. Jesus está presente em nosso meio não mais de maneira física, mas através dos sinais deixados por ele, para que a Igreja os atualize por meio do Espírito Santo. Tomé pode afirmar com profundidade e propriedade: “MEU SENHOR E MEU DEUS”. Tomé viu e creu; os apóstolos viram e creram; assim como Maria Madalena com outras mulheres também viram e creram e todos os que O viram creram.
A partir da “dúvida” de Tomé, que aqui não é fechamento, mas desejo de conhecer, já não há mais motivos para duvidarmos da presença operante de Cristo Divino entre nós. Creiamos em Cristo, e no testemunho da Igreja. Nas palavras do Mestre encontramos a beleza e o significado mais profundo da fé. A fé não precisa ver. Fé não necessita de provas cientificas, ela se funda em Deus na sua Palavra e na certeza da presença que se faz ausente aos olhos, contudo, se experiência com o coração e com a razão. Esta experiência não é sentimentalismo ou emocionalismo barato, é algo que atinge o ser humano na sua totalidade, corpo mente e espírito. Fé que também não deixa de ser racional. Razão é fé não se opõe. Aliás, a fé necessita da razão para que ela seja razoável. A fé cristã não pode ser ingênua, infantil, mas atingir a maturidade. A verdadeira fé tende a crescer constantemente. Ela necessita da razão para dar razões de sua esperança. Proclamemos com todo nosso ser: “Meu Senhor e meu Deus”.
Padre Reginaldo José da Silva
Cura da Catedral de Guaxupé
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