SOMOS CHAMADOS A SER SAL E SER LUZ (Mt 5,13-16)

“Vós sois o sal da terra. Se o sal perder o sabor, com que lhe será restituído o sabor?” disse Jesus aos seus. O que é ser sal? Há pessoas que, tendo uma vida comum, igual à de muitos outros, dão a tudo o que dizem e fazem o toque de um “sabor” diferente. Os que com eles convivem e se relacionam captam, talvez de modo inconsciente, que tudo neles é atraente, porque está temperado pela bondade, pelo amor, pela caridade, pela lealdade, pela serenidade, pela fé. Tais pessoas causam-nos admiração. Cristo falou também do sal que perde o sabor, que se estraga. Não só deixa os alimentos insípidos, como pode vir a produzir náuseas. Na vida de um cristão sem sal, isto é morno, tudo é insípido, tudo tem o mau sabor de sal desvirtuado. Assim acontece, infelizmente, com o amor decadente, desleixado e rotineiro dos esposos, dos pais, esse amor que, por não se renovar com detalhes de delicadeza, criatividade e abnegação, foi ficando encardido, esgarçado, e acabou tendo cheiro de mofo, por não dizer odor de cadáver.
“Vós sois a luz do mundo”, pediu-nos Jesus. Mas, como podemos nós ser “luz” se não temos a luz de Deus? Sem a luz da Verdade conhecida e vivida, só podemos ser cegos que guiam outros cegos. Estamos em condições de “irradiar” porque a verdade cristã está clara na nossa mente e se encarna na nossa conduta? Muitos não estão mesmo, e o pior é que não se dão conta do “desastre” que isso é para os filhos e, em geral, para os que devem formar. Por que é que hoje, mais do que nunca, o nosso exemplo precisa ter umas raízes muito fortes de doutrina? Em primeiro lugar, porque, hoje, a ignorância religiosa é generalizada, raia no mais vazio analfabetismo cristão, e é epidêmica e endêmica. Ao lado dessa ignorância, aceita com tranquilidade pela maioria dos católicos, as ideias, valores, critérios de vida e de conduta brutalmente anticristãos, demolidores das almas, são mais poderosos, envolventes mais agressivos que nunca, em mais de vinte séculos de Cristianismo.
Quantos ventos de doutrinas conhecemos nestes últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantos modos de pensamento. A pequena barca do pensamento de muitos cristãos foi não raro agitada por estas ondas. Todos os dias nascem novas seitas e cumpre-se assim o que São Paulo disse sobre o engano dos homens, sobre a astúcia que tende a induzir ao erro (Ef 4, 14). Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é frequentemente catalogado como fundamentalismo, ao passo que o relativismo, isto é, o deixar-se levar ao sabor de qualquer vento de doutrina, aparece como a única atitude à altura dos tempos atuais. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que não reconhece nada como definitivo e que usa como critério último apenas o próprio “eu” e os seus apetites. Não é “adulta” uma fé que segue as ondas da moda e a última novidade. Adulta e madura é antes uma fé profundamente enraizada na amizade com Cristo. É essa amizade que se abre a tudo aquilo que é bom e que nos dá o critério para discernir entre o que é verdadeiro e o que é falso, entre engano e verdade. Creio que é aplicável a todos os que têm uma responsabilidade especial de dar exemplo aquilo que São João Maria Vianney, o Cura d´Ars, dizia aos sacerdotes: “Dai-me um padre santo, e tereis um povo bom. Dai-me um padre bom, e tereis um povo morno. Dai-me um padre morno, e tereis um povo mau”. Onde diz “padre”, ponha as palavras “pai”, “mãe”, “mestre”, “catequista”… E onde diz “povo”, ponha “filho”, “aluno”, “orientando”. Portanto, sejamos sal e luz em meio a este mundo!
Padre Reginaldo José da silva
Cura da Catedral de Guaxupé
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