ABRIR-SE AO ESPIRITO DAS BEM AVENTURANÇAS (Mt 5,1-12)

Talvez não haja melhor afirmação da mensagem das bem-aventuranças do que o pequeno e curioso ditado "Nada tem sucesso como o fracasso." Naturalmente, Jesus não estava falando de fracasso real, como também não estava, mas do que os homens têm convencionalmente chamado de fracasso. A cruz foi, certamente, um desastre colossal, por qualquer padrão convencional. Nas seguintes bem-aventuranças o Salvador deixa bem claro que o reino do céu pertence não aos cheios, mas aos vazios. "Bem-aventurados os pobres em espírito". Jesus começa tocando a fonte do caráter do cidadão do reino: sua atitude para consigo mesmo na presença de Deus. O relato que Mateus faz do sermão torna evidente que Jesus não está falando da pobreza econômica. Não é impossível para o pobre ser arrogante nem para o rico ser humilde. Estes "pobres" são aqueles que, possuindo pouco ou muito, tem consciência de seu próprio vazio espiritual. "Bem-aventurados os que choram". Os homens têm sido educados para acreditar que lágrimas têm que ser evitadas, para ganhar felicidade, Jesus simplesmente diz que isto não é verdade. Há certa tristeza que tem que ser abraçada, não porque ela é inevitável e a luta fútil, mas porque a verdadeira felicidade é impossível sem ela. Até mesmo a aflição que é inevitável aos homens mortais, seja qual for sua condição, pode ter efeitos saudáveis sobre nossas vidas, se permitirmos que assim seja. As lágrimas têm sempre nos ensinado mais do que os risos sob as reais veracidades da vida. "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos". Há uma diferença fundamental entre estar de estômago faminto e de coração faminto. Até mesmo as pessoas mais insensíveis são movidas pela fome do corpo, entretanto, parece haver poucos que reconhecem a fome do espírito e o vazio que o pecado produz. Espiritualmente falando, os homens se parecem com corpos semimortos, mas eles teimosamente se recusam a reconhecer a medonha falta de significado da vida sem Deus. Nem todos têm a sanidade mental para confessar, como o pródigo, que "morro de fome". Há embutido em cada ser humano, uma inevitável necessidade de Deus. Há, nesta bem-aventurança, um chamado para mudança de prioridades. "Bem-aventurados os puros de coração". Alguns autores traduzem esta bem-aventurança da seguinte maneira: "Bem-aventurados os absolutamente sinceros", e este pareceria refletir o verdadeiro significado das palavras de nosso Senhor. A verdadeira visão de Deus não será concedida aos astutos e calculistas, que se dão a jogos desonestos; ou aos de mente dupla, que nunca podem completamente firmar ambos os pés no reino, mas àqueles que são absolutamente honestos e sinceros de coração para com Deus. Eles verão a Deus. "Bem-aventurados os mansos". Num mundo de aspereza e crueldade, a mansidão pareceria um a maneira rápida de cometer suicídio. Os violentos e os teimosos prevalecem. Os mansos são sumariamente atropelados. A verdade é que, a curto prazo, isto poderá ser assim mesmo. A gentileza de Jesus não o salvou da cruz. Mansidão não é uma disposição natural. Não é um temperamento suave inato. Não é o comportamento obsequioso do escravo, cujo estado de impotência força-o a adotar um modo servil, que ele despreza e que abandonaria na primeira oportunidade. Mansidão é um a atitude para com Deus e os outros que é produto da escolha. O homem manso já se cansou de si mesmo. Ele esvaziou seu coração de si mesmo e o preencheu com Deus e os outros. "Bem-aventurados os misericordiosos". A misericórdia é uma qualidade que não é totalmente desconhecida, mesmo num mundo de homens basicamente egoístas. A misericórdia que Jesus elogia vem da percepção penetrante da necessidade desesperada que a própria pessoa tem de misericórdia, não simplesmente a dos homens, mas especialmente a de Deus. Esta é uma misericórdia que mostra compaixão para com os desamparados e estende o perdão até mesmo aquele que repete a ofensa. "Bem-aventurados os pacificadores". Esta bem-aventurança não deixa de ter seus desafios. Não se trata dos pacificadores, no sentido comum, o da mediação de disputas humanas, mas no mais alto sentido de trazer os homens à paz com Cristo. Os verdadeiros pacificadores são aqueles que, eles mesmos, estão em paz com Deus e com os homens e que pregam no mundo um evangelho de paz e reconciliação. "Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça”. O Filho de Deus nunca procurou esconder de seus seguidores as realidades do sofrimento. O Senhor não quer que sejam discípulos por ingenuidade. Ele não quer que choques inesperados destruam sua fé. Ele falou francamente, de modo que, quando seus discípulos sofressem, eles possam saber que isso é justamente com o ele disse que haveria de ser e se encorajem com a certeza de que as promessas de glória de seu Mestre são igualmente seguras: "pois quem fez a promessa é fiel" (Hb 10:23). Com cada bem-aventurança, o abismo entre os cidadãos do reino e o mundo dos homens comuns se alargou. Jesus emitiu um nítido chamado a seus discípulos para que fizessem uma saída moral e espiritual de uma sociedade dominada pelo orgulho e paixão.
Desenvolvido por Minas Web